sexta-feira, 17 de abril de 2009

Empenada Páscoa

Na passada segunda-feira foi dia de mais um longo treino. Era feriado e o tempo tinha andado razoável. Descobri um evento aqui bem perto de Londres, organizado pelo London Phoenix Cycle Club (London Phoenix), o London Phoenix Easter Classic. É o que eles por cá chamam uma "sportive", ou seja, uma prova/passeio à moda das maratonas de BTT por Portugal, uma batelada de kilómetros cronometrados, mas sem taças ou prémios para os primeiros.

O plano consistia em ir até à partida a pedalar, fazer a versão mais longa (114km) e voltar de metro (aqui em Londres só se podem levar as biclas no metro em determinadas linhas e zonas dessas linhas e, por sorte, 2 desses troços passam bem perto de minha casa). O busílis da questão prende-se na zona em que decorre o evento, o Kent...

Vamos lá a explicar a coisa... Eu moro na zona Oeste de Londres, em Hammersmith. O Kent situa-se a Nordeste de Londres, ou seja, tinha de atravessar Londres inteira o que, com a ajuda da ferramenta de planeamento de rotas que já antes referi, parece exequível. Planear a rota, descarregar como ficheiro do GoogleEarth e converter num ficheiro utilizável pelo meu GPS, trabalhito todo feito de véspera...

A escolha entre a rota mais rápida e a mais calma fez-se por uma questão de sono. É que mais 30 minutos de manhã sabem muito bem. E mesmo assim o tempo previsto a uma média de 24km/h era de 1h30m.

Arranquei às 7h00 numa enevoada mas seca manhã e, como por cá era feriado, previa que o trânsito fosse pouco. O track levava-me por várias artérias principais pelo que se exigia mesmo que não fosse a pastar...

As primeiras pedaladas voltaram a confirmar a precisão do site e lá fui indo pelas vazias ruas de Londres, onde só me cruzei com meia dúzia de táxis e outras tantas carrinhas de entregas. E tudo corria bem até que, de repente, a rota planeada me aponta mesmo em cheio para uma auto-estrada... Que para além de ser de uso interdito a bicicletas tem um trânsito rápido que nada auxilia à minha segurança. Solução de improviso: navegar por azimute (ainda bem que tenho carregados mapas razoáveis no GPS...).

Até não correu nada mal. Acabei por dar uma volta maior mas passei por uma zona que em 2012 estará cheia de turistas e desportistas.
2012

Quando já se começava a perceber que estava a entrar nos subúrbios tive ainda a oportunidade de apanhar as primeiras gotas do dia.
Is this Kent?

Mesmo assim acabei por chegar só com 15 minutos de atraso em relação ao previsto, nada mal. Com partida prevista para as 10 horas, chegando às 9h, já estavam bastantes carros por lá e ainda se via gente a chegar. Não tinha feito inscrição prévia por isso fui tratar disso rapidamente (pouquissima gente na fila) e assim que acabei foi ver a fila a engrossar. Comi uma bucha e esperei até à hora.
London Phoenix Easter Classic

London Phoenix Easter Classic

Por cá esta coisa das partidas é feita de modo muito diferente de Portugal. Em vez de arrancar tudo ao molho e fé em Deus arranca-se por grupos. Ou seja, parte-se à hora que se quiser (dentro do limite do razoável) e o tempo contabilizado é sempre o real. Os grupos têm um número limite de pessoas e um tempo mínimo entre cada. Assim evitam-se grandes aglomerações.

Como já estava mais que pronto consegui arrancar logo com o 1º grupo, que saiu cerca das 9h40. Não chegava a ser o número limite de 30, mas andava lá por perto. Haviam bicicletas com variedade, chaços e aviões passando pela minha corriqueira Giant. O ritmo de início foi calmo até nos apercebermos que o percurso estava mesmo bem marcado com setas em todos os cruzamentos. Depressa mergulhámos nos prados do Kent e o ritmo gradualmente foi aumentando para o vivo, cortesia de 4 elementos de uma equipa que estavam a fazer as despesas.

O tempo oscilava entre o húmido e chuviscoso e a estrada estava bem molhadinha, mas nada que nos assustasse. a certa altura os 4 ciclistas que estavam a manter o ritmo devem ter-se fartado de puxar pelo resto do pelotão e o ritmo baixou para o passeio. Nessa altura achei que era boa altura para lhes mostrar que afinal havia mais gente disposta a colaborar para manter o rimto inicial e acabaram por aparecer mais 2 ou 3 que como eu estavam a gostar de andar depressa.

Andar em pelotão na estrada é algo a que estou pouco habituado e acho que em Julho sou capaz de apanhar algumas vezes, pelo que a ideia do dia era, além dum treino fisico, ganhar alguma experiência de pedalar em grupo. Entre curvas e contracurvas, fui alternando entre a frente do grupo e mais ao meio, para descansar um pouco, pois o ritmo estava rápido para o meu habitual... Fomos apanhados por um dos grupos que partiu depois de nós, também com bastantes elementos (mas menos que nós) e acabámos por seguir um pouco com eles, para meu desgosto pois acelerámos mais um pouco e tinha dúvidas se aguentaria aquele ritmo até ao final, mesmo se me resguardasse. Ao fim de algum tempo os elementos mais rápidos do grupo acabaram por se afastar enquanto que outros ficaram connosco. Voltei a partilhar tarefas.

Chegámos a metade do percurso (aos 55km) em cerca de 1h40 e tinhamos um posto de controlo onde a maioria parou, novamente os mais rápidos decidiram ir andando e comi 1/2 banana e uma barrita caseira cortesia da organização (fazia lembrar a famosa "barra da Berta" pelo aspecto caseiro e por ser bastante gostosa, mesmo usando ingredientes diferentes). Foi o primeiro e último abastecimento da oganização no percurso. Haviam muitos pub's, mas a esses iriamos por nossa conta, se quisessemos.

Arrancou a maralha de novo e depressa voltamos ao passo anterior. Nesta 2ª parte do dia a coisa parece que não funcionou tão bem e com cerca de 2h50 de percurso houve uma queda na traseira do grupo em plena recta. Alguns dos presentes comentavam entre si que havia por ali gente que se estava a esticar um bocado no ritmo e que se tinha de andar bem atento ao que se passava à nossa volta. Felizmente que não houveram estragos de maior e estavamos todos rapidamente a pedalar. Um pouco mais tarde foi a minha vez...

Andando numa estrada secundária, numa curva para a direita, ia mais para o meio do grupo e, quando dou conta, está uma bicicleta mesmo na linha que eu tenho de cruzar... Não estava a contar com aquela mudança de trajectória e dei-lhe em cheio. Perco completamente o controlo da bicla e acabo por ir parar à valeta. Alguns arranhões, coxa e joelho a doer e a bicla com as manetes e direcção tortas e a roda da frente ligeiramente empenada. Não sei se a trajectória esquisita foi a minha ou a do outro ciclista, o que é certo é que doeu.

O pessoal que ia a marcar o ritmo lá parou e veio ver o que se tinha passado, desta vez tinhamos sido 3 ou 4 a ir ao chão, mas acho que fui eu que fiquei pior.
Tive de recorrer à chave sextavada para as reparações quando a maioria do grupo já estava a arrancar e acabei por fazer sinal aos poucos que ainda esperavam para irem andando. Achei que sozinho os riscos de cair de novo seriam menores, além de que não queria ir naquele ritmo para já...

Depois das reparações feitas lá fui andando sozinho, agora já não passavam por mim grandes grupos de ciclistas, a maioria ia isolada ou grupos de 3 ou 4, mas poucos. O fim do percurso já estava próximo e passado um pouco fui apanhado por 2 casais de ciclistas. Um destes casais ia cada um na sua "fixie". Respeito. Muito respeito.

Estes tipos tinham arrancado depois de mim e tinham-me apanhado, sem mudanças, nem cubo livre...

Acabei por decidir ir com eles. O ritmo de uma fixie é estranho. Nas rectas se a escolha de relação for boa (como era o caso) aguentam um ritmo alto, mas com as inclinações dão no duro. Estes 2 eram malta rija, ela perdia um pouco de andamento mas ele se pudesse tinha-me deixado para trás num instante. Mas cruzamentos e curvas então... Como só têm um travão da frente que nunca usam (deve ser só pras emergências), para abrandar têm de contrariar a inércia com as pernas com calma e curvar sempre a pedalar, fazem trajectórias superlargas e curvas lentas.

Segui sempre com eles até ao final, acabando com um tempo final de 3h57. Em vez de darem uma classificação final deram-me um "standart" final de Silver. E o que é isto? Bom, parece que por cá têm um esquema de inserir cada participante num grupo de acordo com o tempo total, os mais rápidos serão Gold, depois Silver e por fim Bronze. Eu estava na dúvida se conseguiria chegar ao Gold, que era de 3h45 totais e parece que foi por pouco. Se não tivesse caído acho que tinha dado...

No final os participantes conviveram alegremente no local de onde tinhamos partido, um pub/clube de golfe onde muitos já estavam agarrados à bela da cervejola e muitos a confraternizar. Eu achei que já era boa hora de arrancar de volta para apanhar o metro e lá fui. Por agora o tempo tinha começado a melhorar substancialmente e já havia sol.

Volto a seguir o track que tinha descarregado no sábado para a estação de metro, mas acabei um pouco ao lado e tive de seguir o meu senso comum. Quando lá consegui encontrar a linha do metro (que nesta zona é à superfície), para minha surpresa estava fechada... Parece que estavam com dificuldades técnicas e a próxima estação a funcionar era Whitechapel, que eu não fazia a mínima ideia onde era...

Decisão, pedalar para casa. Sendo assim tive de voltar a usar a bela da bússola do GPS e seguir na direcção genérica de casa até encontrar alguma referência. Passei por algumas zonas de aspecto duvidoso, mas como não tinha muita hipótese foi tentar não ir muito devagar e manter-me nas ruas principais. Após algumas zonas mais confusas comecei a entrar em Londres e começaram a haver algumas indicações de rotas cicláveis, embora algumas dessas indicações se perdessem. Após algumas centenas de metros sempre ia aparecendo uma de vez em quando que me auxiliava no meu retorno.

Desta vez acabei por tomar uma rota mais turística e quando cheguei a Westminster, já era terreno conhecido. Foi só seguir o Tamisa quase até casa...

Balanço total 180km em cerca de 7h, contando com as paragens. O que mais me surpreendeu foi que já em Londres, com cento e muitos kms nas pernas, ainda estava capaz de manter ritmos de 30km/h, embora a capacidade de aceleração estivesse muito reduzida... Acabei razoavelmente empenado, com uma bela assadela, resultado de não ter feito provisões para ter o famoso Halibut em casa (agora já o tenho e tenho estado a dar-lhe bom uso).

Ficam ainda algumas fotos tiradas pela organização, onde apareço (só uma vez) ainda incólume. Vejam lá se me descobrem?
London Phoenix Easter Classic

Na terça-feira ainda senti bem as mazelas, mas menos do que esperava, parece-me que a recuperação será rápida...

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